2 de dezembro de 2012

sombras de pedra

(foto: carlos silva)

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sombras de pedra

íspesme co xélido alento que tanto desexo.
aínda quente dos beizos doutras latitudes,
a miña pel agárdate.
esfórzome en zoar para que me atopes,
aniñanda na brandura do hoxe,
asentada na opacidade da sombra,
anhelante, pétrea e experta.

l’escorça en la que el teu xiuxiueig s’inflama,
espera obligar-te a retenir-me,
erosionada en els teus ulls, no prou profunda encara.
que les teves mans expertes,
em resegueixin una vegada i una altre,
fins caure extenuats sobre l’humitat dels pensaments.

mordo o ar entre os milleiros de dedos que configuran
este corpo inherte, perdido no esquecemento
dun suspiro fondo e impertinente
antes da cópula dos teus sentidos contra todo eu.

eva méndez doroxo


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[ estrofe em catalão vertida para galego por: eva méndez doroxo]

 


" a corteza na que o teu murmuio se inflama,
agarda obrigar-te a reterme,
erosionada nos teus ollos, non de abondo profunda aínda.
que as túas mans expertas,
me percorran unha vez e máis unha,
ata caer extenuados sobre a humidade dos pensamentos."


19 de novembro de 2012

a sagração da primavera interior

(foto: carlos silva)

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a sagração da primavera interior

lanternas de fósforo na costela de ogum:
esburacadas pálpebras. cáustica meditação.
meus cílios de atanor em ave-espelho!

direis, pleroma, lego de lua em prisma?

porém, eis a boca das crateras, em argumentações de pirineus.
são azuis dentro de verdes. apeteces? céu filtrado de floresta!
sim, fogo. fátuo. cobalto de ferreiro. meu focinho de dragão.

um horto de oliveiras, na tentação da fortaleza. sofro de muralhas.
extingues? com pés de gueixa e dança de jack-o'-lantern!

sondas, que há mais no terreno do corpo, a tenda-pira:
patas, cópulas, glândulas de velhos alquimistas.
e a sibila-entidade, soprada por garotos parafínicos,
cremando seu nome em grimórios de celofane.
(não sabem que o chamam).

são quatro estrelas nos cardeais da rosa, persas oscilatórios.
conseguirás sustentar o peso planetário deste balé massivo?
abrasas. ele te vestirá a máscara. não há artifícios.
pêlos florais. arde-nos.

andréia carvalho gavita


16 de novembro de 2012

prendo no anzol

(foto: carlos silva)

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 prendo no anzol
da túa boca anfibia
veiga alagada

elvira riveiro

13 de novembro de 2012

encolhida

(foto: carlos silva)

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"Encolhida. Tão encolhida. Até o horizonte sumir.
Dói a supressão do ar e da luz, dói a míngua de ser. Dói a
abertura ténue que não protege.
O entorno forte e vagamente sólido serve apenas para
exacerbar a luz fria. Um olhar falso, uma miragem. Um assalto de fora à íntima recolha de ser: por dentro das pedras, do saibro, das sombras, do interno e sôfrego ninho.
Encolhida na humana paisagem, engano na lente do fotógrafo. "

Almerinda Alves

29 de outubro de 2012

aquela papoula

foto: carlos silva

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aquela papoula

olhaste-me dessa acendalha negra que percorre o mundo,
pálpebra rubra e univalve, abre e fecha ao timbre da aurora.
aquém de nós existe um rio quente de sangue,
e um intercílio abraça os céus, além!
sei que as lágrimas estão ocultas no solo
a alimentar as fontes de prazeres.
nós, fechados em concha,
bebemos um no outro a cor viva do amor,
sem a sofreguidão do tempo.

Luísa Azevedo