18 de junho de 2013

il tombe des cordes

foto: carlos silva

***




IL TOMBE DES CORDES

Há sol a mais entre o girar quando os olhos assim semicerrados
atentam no pélago de cada coisa radiosa
- um fragmento de barro, a rede ao lado da água, a velhice do poço, de um sótão, uma claraboia -
a potência do sal trespassa os búzios nos olhos
porque quando se é inteiro não se tem que amar uma só realidade
da mão ao punho são muitas estações onde o toque naufragado se espraia
e se comove a cada sulco da memória singular

a roda será sempre a mesma que reconhecemos da carne exposta
sem que ela interrogue o seu desígnio circular
tal como da arte não questionamos seus alinhamentos
ou do infinito seu bago de ouro, por mais pequeno
aprendemos que nas cordas os laços são expansivos
que nas combinações contadas e definitivas se perece internamente
mesmo reconhecidas as pontas, a ferrugem, o ferro
- a cruentação do enforcado, os ossos de Seth, as presas do chacal –
mesmo o ferro negado do templo
perece-se intimamente:
a corda é sempre corroída, as pontas dos dedos, o terno ângulo simétrico aceso que aguarda
ou a âncora imersa por trás das atlânticas pálpebras
quando somos apenas nós quem ousa esperar e oxidamos

cada coisa em si é maior, é diante do seu incêndio salubre e autêntico que nos debruçamos
e ficamos à escuta, como se por pararmos algo na roda arvorasse os crânios - monárquicos celestes, humanos – pela grande corda em tensão que fecunda a terra
nada no círculo arrasta o milhar de formas outras,
um voo de constelações diferentes, um sorriso luminoso, ou as cordas serem escassamente chuva

as raízes visíveis com que se atam os ventos ou o coração oval no meio da caverna
ou a cabeça fundeada no navio que predissera tudo
e as coisas continuam ali
activas
e a sua linguagem é-nos ilegível como um quarto sombrio

***

constanza muirin

 

2 comentários: