11 de janeiro de 2012

carta do anónimo - loire - alento irreversível

(foto: carlos silva)

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carta do anónimo - loire - alento irreversível -

1.
busquei abrigo - ante as fotos - de mapplethorpe - absorto na luz - a iminência do avassalador – súbito recordo - a solicitude do corpo - a película imóvel - a dissipar-se - devolução do excesso – toda a temeridade do elucidativo - o que trespassa - no silêncio - e se reflecte nos pulmões –

2.
a torre - o rumor do esparso - os cactos - cabeça na cal - nudez - loucura dos reflectores -
a náusea - mapas do submerso - azul hipnótico - ebriedade do prado - catástrofe do definitivo -

3.
quem entorpecido de visões - sob o jugo do irreparável - vislumbra o sofrido e o exaltante -
na iminência do desastre - retoma toda a temeridade do visível - o alento do irreversível -
pela inadvertida figura - do escasso - deixa entrever o oblíquo - o que assoma nas palavras -
e se inscreve no incólume - a ímpia luz - inextricável faca - rente às grades - da discórdia ? -

4.
a ávida correspondência do imune - sombra - branco - lâmpada – tristeza muda - voz do exasperado

5.
esperando até que o carteiro passe - reabsorvendo a ânsia - inexplicado pudor - do desespero -
redescobrindo a música e o ardor - a ostensiva carta de loire - a pólvora - que sobra do revólver - ágil -

6.
não me escrevas - deslumbra - torna tudo inclassificável - nítido e preciso - animal indefinível -

7.
deixa-me perpetuar - o diminuto - gume - o ímpeto da lâmina do sono - rente à terra húmida - levar de vencida - a constância da voz - a gaia ciência - na orla da noite - quietude da chama –
por sobre o orvalho - a mente - soçobrando - no encalço do convincente - vacuidade do ar - o dúctil -

alexandre teixeira mendes


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