(foto: carlos silva)
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A questão é essa
mesmo: não somos nada! Que somos nós? Um piscar de olhos. Minúsculas partículas…
Pó cósmico, não é o que se costuma dizer? Minúsculas partículas perdidas no
meio de biliões de outras pequenas partículas... e esses biliões de partículas
habitam numa estrela em tudo igual a biliões de outras estrelas. Vês essa
camada de pó aí no tablier? É como se fosse uma pequena nação. E nós? Uma
dessas partículas. Quase invisíveis! E agora varro com a mão este aglomerado de
pó... e assim desaparece uma nação e assim desaparecem seus habitantes. Agora
sacudo as mãos para me livrar do pó. Voilà!
E mediante isto, ficas tu escandalizado por eu ter ‘arrumado’ um gajo. Ruanda? Conheces? É- te familiar o nome? Antes de tomares o pequeno-almoço, dezenas de crianças eram chacinadas. Não ouvi da tua parte qualquer frase reveladora de empatia, qualquer comentário sequer. E enches-me os ouvidos por eu ter fechado os olhos a um polícia gorducho!...
E mediante isto, ficas tu escandalizado por eu ter ‘arrumado’ um gajo. Ruanda? Conheces? É- te familiar o nome? Antes de tomares o pequeno-almoço, dezenas de crianças eram chacinadas. Não ouvi da tua parte qualquer frase reveladora de empatia, qualquer comentário sequer. E enches-me os ouvidos por eu ter fechado os olhos a um polícia gorducho!...
E a placenta rebentou! O momento era chegado! Nove meses de
ansiedades, semanas de preparação, a placenta ao rebentar retirou-lhe o baralho
das mãos, remisturando as cartas até então meticulosamente ordenadas. Sentiu-se
como levado pela corrente de um rio – e era uma sensação tão ou maís física do
que mental. Sentiu que todo o auto-controle, todas as convocatórias anunciadas
a todos os recantos do seu corpo, eram coisa pouca perante aquilo. Olhou lá
para fora pela única janela das redondezas. O sol pareceu-lhe maior.
Hugo Nascimento Veloso
Parabéns a Hugo Nascimento Veloso por este texto. Case nada! Poucas veces se ten dito a verdade tan espida e tan acertada. Como se fai para escribir así? Será cousa de pensar así? Levarao nos dedos?
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