15 de julho de 2012

maleza

(foto: carlos silva)

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Maleza
Para saber de amor, para aprehenderlo
haber estado solo es necesario.
Jaime Gil de Biedma

Después de haber amado así,
la muerte
no me tendrá del todo.
José Luis Piquero


Toda historia tiene origen
y puede no tener fin.
Pensemos un momento en todo aquello
que nos habita, en los inviernos
de la memoria; como aquel verano vacío
y lento como el vientre hinchado del hambre.

Maleza, toda la extensión de una vida
puede ser maleza.

¿Y si la poesía siempre hubiera estado ahí?
Mente y universo o cierzo,
todo maleza. Y como en un sueño
se extenderá ante ti la nada
como el fuego azul antes lo hizo,
la mirada rota, el pánico o el grito.

Y ya lo sé, existen perfumes resplandecientes,
días de playa, noches más transparentes,
páramos que chillan, también,
abejas y palacios y torres,
naves llenas de locos, etcétera.

A mí no tenéis que repetírmelo.
Definitivamente, seguid sin mí
en vuestra carrera. El cielo
ha de ser siempre igual al cielo,
por muchas formas y colores que posea,
como el mar al mar, la vida a la vida.

Pero esta maleza que todo lo atrapa
no es el final de la historia,
tampoco es el principio.
Me retiro a los confines de la noche,
a las dulces laderas del camino helado.
Ya te lo dije, esto no es una derrota,
después de haber vivido así
nunca me iré del todo.

Ignazio Escuín Borao


10 de julho de 2012

côncavo

(foto: carlos silva)

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Côncavo

Cólera nos meus olhos pequenos de passarinho morto
O pior chute é aquele que vem da inocência cortante das palavras
(a ainda menina e sua vulva violentada entre as coxas)
É preciso velar pelas bocas costuradas
Gosto de pintar homens sem faces
Subjugados pela insensatez dos ponteiros e de outros homens
- essa nossa vida anti-horário
A nos comer pelos pés.

Hoje as paredes caiadas discorrem mais a meu respeito
Do que cien años de soledad ao seu lado
De todo nosso amor anárquico
Restam-me ridículos pontos de luz furtados
Escapando rotos pelas venezianas trancadas
Agora seus gozos mancham outros úteros
Suas mãos convulsivas já não me dividem ao meio
Como a mim mesma – autoflagelo. 

*
márcia barbieri
http://www.avidanaovaleumconto.blogspot.pt/

7 de julho de 2012

2 por 7: um soneto

(foto: carlos silva)

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2 por 7: UM SONETO

Leiria, noite de quarta-feira, 27 de Julho de 2011

Quando ao porvir anteponho as passadas vidas
que vivi já e já passei,
nem sei que diga, eu nem sei
quão negras são as rosas rubras fenecidas.

Do ido, olvido não faço, que o não quero:
esquecer, é ser-s’apenas quem
de pai não veio nem de mãe.
E eu vim e vou. Eu vim e vou. Por isso, espero

do amanhã coisa qualquer que a vida tenha
e manter queira no viver.
E seja o que tiver de ser:

que indo estou, vindo que sou, como hei-d’ir.
Tal tudo vem, tal tudo vai: tal mãe, tal pai.
         Se vou? Se vim? Rosa. Jardim.

*
daniel abrunheiro




4 de julho de 2012

sabes do que tenho mais saudades?

(foto: carlos silva)

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Sabes do que tenho mais saudades? Daqueles nossos passeios junto ao rio, com o vento a acariciar as nossas faces e a tua mão a agarrar forte a minha. Tenho saudades desses tempos, saudades do que éramos e do que pretendíamos vir a ser.
Tantos anos passados e ainda parece que sinto a aspereza daquele "nosso" banco. Não de uma forma física. Apenas o sinto se fechar os olhos.
Na verdade, a única aspereza que agora sinto verdadeiramente é a da tua ausência. Ainda costumo ir até àquele banco, sabes? Fico sentada horas e horas a contemplar o rio que agora corre tão lentamente. Fico sentada à espera que algo de anormal aconteça, mas até agora nada. E por momentos sinto-te ao meu lado, sinto-te a agarrar-me novamente na mão e a sussurrares-me ao ouvido que o futuro a nós pertence. 
O rio mantém-se sereno. Quero acreditar que a tua alma também.
Se um dia precisares de mim, vem procurar-me ao "nosso" banco.

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Marta da Costa
http://tohollywoodwithlove.blogspot.pt/

1 de julho de 2012

non hai de que asustarse

(foto: carlos silva)

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Non hai de que asustarse, este corazón, este corazón nunca aceptará unha marca perdurable, percorrerá a terra, camiñará alegre, pero o arame da luz non chegará a facer presa na súa nervadura encarnada. Non hai de que asustarse, son as propias mans fechadas sobre o peito as que asombran a víscera, as que fan que non haxa lugar alí máis que para un brillo tépedo e fraterno.

Rexeitar calquera combate, deixarse ir, deixarse ser sen violencia, sen pretender devorar a alma que se achega e que te toca. Deixar que se queimen renegridos pans na porta do forno e preservar o orgullo, o lustre da coiraza.

*
xina vega