(foto: carlos silva)
***
De plus en plus silencieux
Mes amis sont partis sur les toits,
ils
sont partis dans la lévitation diabolique du ciel.
Piégés, peut-être, par cette veine
cave de l’air qui se perd toujours,
épaisse,
par-dessus les immeubles, vers le crépuscule.
Abandonnés. Le toit, comme l’ongle
bleuâtre d’un mort,
laisse
tous les jours une traînée de sang dans le ciel.
Oui. Les amis d’hier ne sont plus,
tu ne les vois plus se taire
sur
le toit. Tu n’entends plus des pleurs dans la rue.
J’ai voulu leur dire toute la
vérité :
que
j’ai étranglé mon mendiant,
que
je l’ai jeté par la fenêtre.
En bas – voulais-je leur dire –,
en bas s’étend l’asphalte obscène,
guettent
les civils qui donnent des ordres
et
serrent les rangs.
La peur a rongé la ville jusqu’aux
toits,
par-dessous
les murs en verre et leur bruissement.
Mais ils ne sont plus là-haut, soulevés
par les câbles bien graissés,
par les roues
hypnotiques du désespoir.
Il y a longtemps, comme avant,
comme après, qu’ils
sont
étrangers à tout cela.
*
Linda Maria Baros
*
Cada vez
mais silenciosos
Meus amigos partiram sobre os telhados,
eles foram na levitação demoníaca do céu
Sem saída, talvez, por esta veia cava do ar que se perde para sempre,
espessa, no topo de edifícios, perto do anoitecer.
Abandonados. O telhado, como a unha azulada de um morto,
deixa todos os dias um rasto de sangue no céu.
Sim. Amigos de ontem já não estão, já não os vês calarem-se
no telhado. Já não ouves choros na rua.
Quis dizer-lhes toda a verdade:
Que estrangulei o meu mendigo,
que o atirei pela janela.
Em baixo - queria dizer-lhes – em baixo estende-se o asfalto obsceno,
vigiam os civis que dão ordens
e cerram fileiras.
O medo atormentou a cidade até aos telhados,
por baixo das paredes de vidro e seu ruído.
Mas eles já não estão lá em cima, levantados pelos cabos bem engraxados,
pelas rodas hipnóticas do desespero.
Há muito tempo, como antes, como depois, que eles
são alheios a tudo isso.
Meus amigos partiram sobre os telhados,
eles foram na levitação demoníaca do céu
Sem saída, talvez, por esta veia cava do ar que se perde para sempre,
espessa, no topo de edifícios, perto do anoitecer.
Abandonados. O telhado, como a unha azulada de um morto,
deixa todos os dias um rasto de sangue no céu.
Sim. Amigos de ontem já não estão, já não os vês calarem-se
no telhado. Já não ouves choros na rua.
Quis dizer-lhes toda a verdade:
Que estrangulei o meu mendigo,
que o atirei pela janela.
Em baixo - queria dizer-lhes – em baixo estende-se o asfalto obsceno,
vigiam os civis que dão ordens
e cerram fileiras.
O medo atormentou a cidade até aos telhados,
por baixo das paredes de vidro e seu ruído.
Mas eles já não estão lá em cima, levantados pelos cabos bem engraxados,
pelas rodas hipnóticas do desespero.
Há muito tempo, como antes, como depois, que eles
são alheios a tudo isso.
*
[trad: cas]
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